Conheça Alguns benefícios Cognitivos
do Jogo de Xadrez
O
Cérebro é como um músculo; se usado Desenvolve e se fortalece, caso contrário,
fica flácido, atrofia, fossiliza...
"Se o
ensinamento não visa a liberdade consciencial, não pode ser chamado de
ensinamento..."
Um problema e mil alternativas como solução, eis a visão de um jogador
de xadrez...
Ver com clareza não significa apenas ter bons olhos, mas ter olhos que queiram enxergar...
Parece que um dos grandes problemas dos nossos
tempos é a visão quase sempre parcial que temos das coisas à nossa volta. Isso normalmente ocorre porque valorizamos a
especialização. Desde cedo somos condicionados a buscar na especialização uma
resposta para todos os nossos problemas. Mas, ao contrário do se pensa, isso
acaba por limitar de forma dramática nossa visão do mundo, uma vez que passamos
a ver tudo como fragmentos.
É como se olhássemos o mundo de uma janela e a
parte visível representasse tudo o que existe. Se emocionalmente, diante de
cada situação reagimos de uma maneira bem peculiar, assim como nós, todas as
outras pessoas têm seu próprio modo de reagir às mesmas situações. Pode-se
constatar isso facilmente através da observação das nossas preferências,
particularidades, medos, e assim por diante.
Um dos grandes desafios do educador deveria ser a
formação de alunos dentro de uma filosofia integral. Por integral entendemos,
enxergar o movimento da vida como uma coisa só, em transformação, nunca
estática, sempre dinâmica, e não encarcerada pela fragmentação, como é a visão
especialista. Entendemos que a vida como um todo retrata todas as faces do
indivíduo, suas crenças, os medos, os conflitos, as incertezas, a angústia, e
todo sofrimento ao qual ele está sujeito, sem, contudo, desprezar sua biologia.
Mas não podemos ignorar que o seu processo psicológico merece uma atenção
especial.
Não podemos compreender um ente humano tomando como
base apenas uma parte do seu comportamento, a exemplo de uma postura social,
situação étnica, ou mesmo a partir de uma preferência ideológica. Ele é tudo
isso e muito mais; mais do que podemos perceber com nossos sentidos ordinários,
ou nossa mente condicionada, amordaçada pela especialização, ou agrilhoada por
crenças pessoais.
De certo modo somos orientados desde cedo a seguir
uma carreira, a pensar dentro de uma caixa de métodos, segundo uma doutrina ou
conjunto de regras, o que acaba se tornando o nosso mundo. Um mundo privado e
cercado pelas muralhas desse repertório de conhecimento, que representa todo
nosso saber, e atrás das quais nos escondemos. E isso acaba por nos confortar,
criando acomodação, pois é um terreno sempre conhecido; é como se além daquilo
nada mais existisse.
Entender que a vida é dinâmica e está sempre em
transformação, que é um mundo onde as alternativas ou opções mudam de posição
constantemente, assim como exige o próprio ir e vir do viver, capacita o
estudante a ter uma mente mais flexível, com disposição para se renovar sempre.
Isso o facultará a acompanhar com mais realismo este incrível movimento
impossível de ser contido.
Uma mente flexível sabe que as alternativas são
reais, e nunca se contenta com respostas prontas. É por natureza curiosa, está sempre aberta ao
que é novo. O raciocínio lógico, de algum modo, capacita o jovem a pensar logo
em alternativas, como possíveis respostas para seus problemas. Essa visão o
impede de tomar decisões precipitadas em sua vida adulta, pois saberá que para
todo problema sempre haverá uma solução, e muitas alternativas para se chegar a
ela. Uma mente com esse perfil estará mais capacitada para lidar com a dinâmica
da vida.
Um dos maiores dilemas do ser humano é sentir-se
encurralado diante de uma situação qualquer. Nesse momento, sua mente não
consegue raciocinar de uma forma lógica, coesa, racional, e os pensamentos se
tornam mais ou menos fixos, recorrentes; ficarão gravitando em torno de um
mesmo ponto, ou ideia, enfatizando as implicações do problema, como se
estivesse presa numa espécie de vácuo mental.
Nesse caso, desaparecem as respostas prontas, e
como que por encanto não conseguirá vislumbrar alternativas. Uma espécie de engasgo
temporário, do qual aquela mente não consegue se libertar é o efeito esperado.
Isso acontece na maioria das vezes, devido ao condicionamento rígido que
valoriza a visão fragmentária das coisas, de forma inflexível, presa à
especialização.
E quase nunca somos capazes de ver um problema a
partir da sua origem. E tentamos solucioná-lo a partir dos seus efeitos, o que
é um grande erro, uma vez que as consequências de um problema, na maioria das
vezes, não representa o problema em si.
Essa visão parcial limita nosso pensar; limita
nossas ações diante de questões simples ou complexas. O indivíduo que se
especializa numa determinada área do conhecimento, decerto terá uma visão
bastante restrita de tudo que não diga respeito aos seus domínios. E embora
isso seja um fato óbvio, nunca é tratado como uma das razões da angústia e
conflitos humanos.
Uma visão parcial só é capaz de criar um indivíduo
temeroso de tudo que possa encontrar além da sua área de atuação, ou domínios.
Sentir-se-á naturalmente inseguro diante de qualquer situação fora do seu
escopo cognitivo. Será por natureza conservador, e sempre dependente de outros
para guiar seus passos fora daquilo que conhece. Um indivíduo inflexível, que
dificilmente conseguirá ser feliz diante de uma vida, que está sempre em
movimento, sempre a se diversificar, em constante renovação.
Diante de cada problema, possibilidades múltiplas
precisam ser consideradas. Essa bem que poderia ser a primeira orientação que
deveríamos passar para nossos filhos e alunos. Isso resolveria o problema das
verdades únicas, que afloram mundo afora, criando verdadeiras legiões de
fanáticos cativados pela alienação.
Teríamos um jovem sempre questionador, sempre
disposto a aceitar, mas não apenas porque aquilo lhe foi imposto, e sim porque
assim concluiu, depois de analisar dentre todas as possibilidades, que uma
questão é capaz de suscitar. Seguir sem questionar é fácil, é o que a maioria
faz. Mas um indivíduo só se torna questionador quando sabe que para cada
questão, há sempre uma solução, dentre as inúmeras perspectivas, ou rotas,
possíveis de conduzir ao desfecho.
Orientar sem instigar o sentimento de competição ou provocar antagonismos, eis o maior desafio que o verdadeiro educador tem em mãos...
Isso quer dizer que, uma mesma questão, apesar de
ter apenas uma solução, terá sempre vários caminhos possíveis de conduzir até
ela, e nunca apenas um. Isso pode
parecer banal, mas normalmente, diante de um problema, ele emperra porque só
consegue vislumbrar a solução que mais o favoreça, e sempre dentro dos limites
do seu perímetro de atuação. E por isso deixa de fora os caminhos alternativos,
que também o conduziria a essa mesma solução. O caminho único pode limitar a
ação, mas diante de alternativas viáveis, acabará por encontrar uma que se
mostre mais adequada ao seu perfil e temperamento, aquela onde poderá exercitar
todo seu potencial criativo.
Uma visão mais ampla, quer dizer alguém que seja
capaz de enxergar, não apenas o adversário que está diante de si, mas também
todo ambiente à sua volta, e todos os demais protagonistas que façam parte da
cenografia. Enfim, o maior número de detalhes do ambiente onde se desenvolve a
trama, e seus possíveis desdobramentos. Essa perspectiva faculta uma quantidade
maior de respostas.
A visão geral da situação, onde também se inclui o
adversário ou problema, permite que se faça uma melhor avaliação da pauta em
questão, ampliando o espectro de suas consequências, quais as opções mais
perfiladas com a possível solução. Com isso, pode-se até concluir que aquilo
nem era um problema. Uma visão limitada e restrita de uma questão pode nos
colocar diante de uma situação com cara de problema, sem que de fato o seja.
Um jogador de Xadrez tem diante de si problemas,
situações que se apresentam, de um modo inicial, como de difícil solução. Mas,
eis que ao erguer seus olhos, ele pode vislumbrar mais adiante, ter uma visão
panorâmica do problema. Ao ver o campo de ação por inteiro, ele poderá apreciar
melhor o desafio que tem diante de si; a distribuição de suas variáveis, os
caminhos que poderá tomar. Ali ele é capaz de avaliar, minimizar ou eliminar,
os possíveis efeitos colaterais de suas decisões, e o mais importante, conhecer
todos os recursos dos quais dispõe para tentar solucionar a questão.
Poderá prever se as soluções que imagina terão o
efeito desejado. Terá ainda diante de si, as
possíveis consequências de cada caminho que escolher. Ele tem uma visão
privilegiada, e por inteiro, da situação. Pode reconstituir todos os passos, de
modo que o conduzam à raiz daquele obstáculo, e diante dos fatos, pode
finalmente aprender sobre os eventuais desfechos das falhas já cometidas, que
venham ou viriam a ocorrer. Poderá ainda prever como superar, no futuro ou no
agora, cada dificuldade que se apresente diante de si.
Para se aprender da forma adequada, a atenção
disciplinada é sem dúvida a qualidade mais importante. O jogo de Xadrez se
propõe a despertar em primeiro lugar, entre seus praticantes, esse essencial
estado de vigília. Isso tornará o jogador um observador qualificado, mais
atencioso com os detalhes, mais criterioso e lúcido, sagaz e capaz em suas
decisões.
Sua visão se renova. Seu modo de pensar se amplia,
e terá a seu favor dois fatores mais que importantes na solução de qualquer
questão da vida. Um deles é a lógica que o ensinará a sistematizar e organizar
uma questão antes de tentar resolvê-la. A outra é a versatilidade ou
flexibilidade, atributo de uma mente aberta, ágil, que está sempre disposta a
experimentar as novas possibilidades, as alternativas, além daquelas já
existentes, para solucionar uma mesma questão.
Na visão tradicional, perfilada pelo
condicionamento delimitador de cada um, temos diante de nós muitas soluções
prontas para antigos e novos problemas. Se os problemas nunca se renovassem
seria um cenário de mundo perfeito. Mas os problemas estão sempre mudando de
forma, e as antigas soluções se mostram obsoletas, incapazes de resolver a
questão.
Sendo orientado para, a partir de um todo ter
competência para vislumbrar a parte que está fora dos eixos, o jovem praticante
de Xadrez também desenvolve a capacidade de antecipar situações possíveis de
criar problemas. Logo, ele se torna mais capaz, não só de evitar futuros
obstáculos, mas também de solucioná-los.
Uma mente vigorosa, ativa, cheia de músculos
sinápticos bem desenvolvidos, é o benefício imediato de quem mentalmente
articula muitos caminhos e possibilidades para se chegar a um objetivo. É a
mesma coisa de um autor de ficção, a criar uma trama onde, por exemplo, o
personagem principal, ao caminhar por uma estrada cheia de obstáculos, tivesse
que tratar cada um, de uma maneira sempre nova, o que não seria possível com
uma mente inflexível.
Nessa prática, devemos ainda enfatizar, que o jogo
apesar de ser uma competição, não precisa tornar-se uma disputa. A atividade
serve de instrução para os dois jogadores, e nesse contexto, não existe aquele
que perde e outro que ganha, mas apenas dois aprendizes que estão se
qualificando na arte de tomar decisões.
Sobre a Autoria:
[1] Alberto Silva Filho - O
autor é orientador de educação infantil e adulta, escritor de contos infantis,
e um dos Idealizadores e colaborador fixo do Site de Dicas.
Email: albfilho@gmail.com
Email: albfilho@gmail.com