Estamos iniciando um
ciclo de entrevistas com jogadores e aficionados pelo Xadrez.
Vamos conhecer melhor sobre o atual campeão
mossoroense (2016).
Nome
completo: Helio Fernandes Viana
Data de Nascimento: 27/03/80
Naturalidade: Brasileiro
Profissão: Instrutor de Idiomas/Estudante
Pontuação no ranking internacional e
nacional? 1901 (FIDE); 1860(CBX)
Fale-nos sobre sua história – conte-nos
uma breve biografia – e em que ponto dela você passou a se interessar pelo
xadrez.
Nasci em Goiânia. Meu pai faleceu
em 1985. Minha mãe, Gelza Viana, voltou-se a casar com Hugo Falcone, argentino. Aprendi
a jogar xadrez aos 8 anos, quando passei, com a família, uma temporada na
Bolívia. Um senhor, vizinho, convidou-me a ser o "varredor oficial da
academia". A academia era sua casa, onde vinham um par de amigos a jogar.
Aprendi ali a gostar. Nunca consegui ascender de posição na academia, mesmo
superando meus velhos amigos. Em 2010 voltei ao Brasil, Mossoró. Encontrei
amigos jogando em um bar em frente ao Nogueirão (Batista, Luis, Italo). Desde
então tenho praticado regularmente.
Por que jogar xadrez?
Jogo xadrez, pelo
"prazer" --nem sempre alcançado-- de competir. Talvez, vejo alguma
superioridade nesse jogo. Se o que fazemos nos define em certa medida, ser
enxadrista, gostar de um jogo que reputamos "inteligente", pode
significar uma busca de melhoramento de si, de uma auto-superação. Independente
do motivo, a amizade que se descobre do outro lado do tabuleiro é suficiente
justificativa para sua prática.
Estuda xadrez regularmente? Quais
livros está lendo atualmente?
O trabalho, o estudo, faz
impossível o estudo regular do xadrez. Quando tenho tempo, o que nem sempre
temos, resolvo problemas. Atualmente está de moda resolver os exercícios de
táticas no Chesstempo. Contudo, tenho em meu poder as 60 melhores partidas de Bob
Fischer e (segredo) um livrinho dedicado à Grand Prix, uma linha violenta da
Siciliana que é, quase sempre, uma surpresa para os oponentes. São meus livros
"quando dá" para estudar.
Em sua opinião, por que o xadrez tem
crescido tanto nos últimos anos (especialmente no meio escolar)? Como você vê o
xadrez hoje no mundo e em Mossoró?
O crescimento do xadrez é um
fenômeno mundial, desde 1972 quando popularizado no enfrentamento USA-URSS
(Fischer-Spasky). Atualmente, Carlsen e Kasparov, têm colaborado com esse
crescimento. Entretanto, no Brasil (visitado por estes últimos jogadores neste
início de milênio), o programa "Mais educação", do governo federal
deu um incentivo ao incluir a matéria entre as disciplinas nas escolas
contempladas. Isso fez possível que o xadrez fosse "aprendido" pelo
menos em suas noções básicas em escolas da periferia e em geral. Contudo, no
meu ver, o impacto ainda tem sido mínimo no xadrez competitivo.
Neste nível, em Mossoró, espaço de
nossa experiência atual, apesar dos esforços realizados, não houve ainda uma
"conexão" consolidada entre a juventude das escolas e os competidores
do xadrez clássico.
Houve um avanço nestas últimas
gestões do Clube de Xadrez Mossoroense, houve campeonatos em que juventude e
"velha guarda" se encontraram. Mas esse encontro ainda parece ser
esporádico. Suspeito, entre outras razões, falta o espírito de competição
destas novas gerações. Eles preferem esporte mais de "moda", que não
os mova de diante de seus note-books (x-box, etc), o que faz a tarefa difícil.
Conselho aos iniciantes?
Aos iniciantes, incentivo à
prática regular, ao cultivo da amizade ao redor do tabuleiro --eis aí uma
partida que não se pode perder. Se o objetivo é cultivar a amizade, xadrez é um
ótimo meio. Se se quiser superar, como esporte. Aconselho o aprendizado de uso
do programa Fritz. O mundo do xadrez atual está sintetizado nesse programa, com
seus recursos informacionais e didáticos.
Para você qual o melhor jogador da
história e os melhores da atualidade? Tem algum ídolo?
Parece-me que Fischer foi o
fenômenos mais impressionante da história, mas Kasparov foi o jogador mais
completo até seu declínio. Carlsen é, incontestado, o melhor jogador atual. A
questão é: por quanto tempo? A nova geração do xadrez “computacional” alcança o
grau de GM cada vez mais jovens. Carlsen, me parece, foi a apenas um dos muitos
que virão.
Qual a importância do xadrez na sua
vida? Que benefícios ele lhe trouxe?
O melhor benefício do xadrez até
agora, em minha vida, foram os amigos que desse cultivo me nasceram. Acredito
ser esse o melhor fruto. Acredito que o xadrez constitui um exercício que
desenvolve as habilidades para o próprio esporte e não para outra área da vida.
Seria pedir demais, ou prometer muito, afirmar que os treinamentos de cálculo e
concentração pudesse fazer de um enxadrista um melhor pugilista, ou jogador de
futebol, ou teórico matemático.
Quais são os seus planos para o futuro
(no Xadrez e na vida pessoal)?
Em um futuro mediano, espero
chegar a atingir um rating que expresse minha força, acima de 2000. Em um
futuro, espero mais longo, espero poder chegar aos anos mais avançados podendo
ter prazer em jogar uma partida de xadrez com um amigo.
Obrigado Hélio.