terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Entrevista #1 - Hélio Viana

Estamos iniciando um ciclo de entrevistas com jogadores e aficionados pelo Xadrez.
Vamos conhecer melhor sobre o atual campeão mossoroense (2016).


Nome completo: Helio Fernandes Viana

Data de Nascimento: 27/03/80

Naturalidade: Brasileiro

Profissão: Instrutor de Idiomas/Estudante

Pontuação no ranking internacional e nacional? 1901 (FIDE); 1860(CBX)

Fale-nos sobre sua história – conte-nos uma breve biografia – e em que ponto dela você passou a se interessar pelo xadrez.
Nasci em Goiânia. Meu pai faleceu em 1985. Minha mãe, Gelza Viana, voltou-se a casar com Hugo Falcone, argentino. Aprendi a jogar xadrez aos 8 anos, quando passei, com a família, uma temporada na Bolívia. Um senhor, vizinho, convidou-me a ser o "varredor oficial da academia". A academia era sua casa, onde vinham um par de amigos a jogar. Aprendi ali a gostar. Nunca consegui ascender de posição na academia, mesmo superando meus velhos amigos. Em 2010 voltei ao Brasil, Mossoró. Encontrei amigos jogando em um bar em frente ao Nogueirão (Batista, Luis, Italo). Desde então tenho praticado regularmente. 

Por que jogar xadrez?
Jogo xadrez, pelo "prazer" --nem sempre alcançado-- de competir. Talvez, vejo alguma superioridade nesse jogo. Se o que fazemos nos define em certa medida, ser enxadrista, gostar de um jogo que reputamos "inteligente", pode significar uma busca de melhoramento de si, de uma auto-superação. Independente do motivo, a amizade que se descobre do outro lado do tabuleiro é suficiente justificativa para sua prática.

Estuda xadrez regularmente? Quais livros está lendo atualmente?
O trabalho, o estudo, faz impossível o estudo regular do xadrez. Quando tenho tempo, o que nem sempre temos, resolvo problemas. Atualmente está de moda resolver os exercícios de táticas no Chesstempo. Contudo, tenho em meu poder as 60 melhores partidas de Bob Fischer e (segredo) um livrinho dedicado à Grand Prix, uma linha violenta da Siciliana que é, quase sempre, uma surpresa para os oponentes. São meus livros "quando dá" para estudar.

Em sua opinião, por que o xadrez tem crescido tanto nos últimos anos (especialmente no meio escolar)? Como você vê o xadrez hoje no mundo e em Mossoró?
O crescimento do xadrez é um fenômeno mundial, desde 1972 quando popularizado no enfrentamento USA-URSS (Fischer-Spasky). Atualmente, Carlsen e Kasparov, têm colaborado com esse crescimento. Entretanto, no Brasil (visitado por estes últimos jogadores neste início de milênio), o programa "Mais educação", do governo federal deu um incentivo ao incluir a matéria entre as disciplinas nas escolas contempladas. Isso fez possível que o xadrez fosse "aprendido" pelo menos em suas noções básicas em escolas da periferia e em geral. Contudo, no meu ver, o impacto ainda tem sido mínimo no xadrez competitivo.
Neste nível, em Mossoró, espaço de nossa experiência atual, apesar dos esforços realizados, não houve ainda uma "conexão" consolidada entre a juventude das escolas e os competidores do xadrez clássico. 
Houve um avanço nestas últimas gestões do Clube de Xadrez Mossoroense, houve campeonatos em que juventude e "velha guarda" se encontraram. Mas esse encontro ainda parece ser esporádico. Suspeito, entre outras razões, falta o espírito de competição destas novas gerações. Eles preferem esporte mais de "moda", que não os mova de diante de seus note-books (x-box, etc), o que faz a tarefa difícil.

Conselho aos iniciantes?
Aos iniciantes, incentivo à prática regular, ao cultivo da amizade ao redor do tabuleiro --eis aí uma partida que não se pode perder. Se o objetivo é cultivar a amizade, xadrez é um ótimo meio. Se se quiser superar, como esporte. Aconselho o aprendizado de uso do programa Fritz. O mundo do xadrez atual está sintetizado nesse programa, com seus recursos informacionais e didáticos.

Para você qual o melhor jogador da história e os melhores da atualidade? Tem algum ídolo?
Parece-me que Fischer foi o fenômenos mais impressionante da história, mas Kasparov foi o jogador mais completo até seu declínio. Carlsen é, incontestado, o melhor jogador atual. A questão é: por quanto tempo? A nova geração do xadrez “computacional” alcança o grau de GM cada vez mais jovens. Carlsen, me parece, foi a apenas um dos muitos que virão.

Qual a importância do xadrez na sua vida? Que benefícios ele lhe trouxe?
O melhor benefício do xadrez até agora, em minha vida, foram os amigos que desse cultivo me nasceram. Acredito ser esse o melhor fruto. Acredito que o xadrez constitui um exercício que desenvolve as habilidades para o próprio esporte e não para outra área da vida. Seria pedir demais, ou prometer muito, afirmar que os treinamentos de cálculo e concentração pudesse fazer de um enxadrista um melhor pugilista, ou jogador de futebol, ou teórico matemático.

Quais são os seus planos para o futuro (no Xadrez e na vida pessoal)? 
Em um futuro mediano, espero chegar a atingir um rating que expresse minha força, acima de 2000. Em um futuro, espero mais longo, espero poder chegar aos anos mais avançados podendo ter prazer em jogar uma partida de xadrez com um amigo.

Obrigado Hélio.